Carbúnculo em suínos




É uma doença febril e aguda de virtualmente todos os animais de sangue quente, incluindo o homem, causada pela Bacillus anthracis. É mais comumente uma septicemia caracterizada principalmente pelo curso rapidamente fatal. Ocorre mundialmente, e se encontra irregularmente distribuído nos distritos onde ocorrem surtos repetidos.
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIAA Bacillus anthracis é uma bactéria formadora de  esporos, imóvel e Gram-positiva (4 a 8 ´ 1 a 1,5mm). Após a drenagem a partir de um animal infectado ou quando se expõem os bacilos de uma carcaça aberta ao oxigênio livre, eles formam esporos que são resistentes aos extremos de temperatura, aos desinfetantes químicos e à dissecação. Por essa razão, não se deve necropsiar a carcaça de um animal morto por carbúnculo.
Os surtos de carbúnculo se encontram associados comumente com solos calcários alcalinos ou neutros, que servem como “áreas incubadoras” para os microrganismos. Nessas áreas, os esporos revertem aparentemente para a forma vegetativa e se multiplicam em níveis infecciosos quando ocorrerem condições ambientais ideais de solo, umidade, temperatura e nutrição. Bovinos, eqüinos, asininos, ovinos e caprinos podem se infectar facilmente ao pastarem em tais áreas. Os surtos provenientes de uma infecção originária do solo ocorrem primariamente em estações em que a temperatura diária mínima seja > 16°C. A epidemia tende a ocorrer em associação com uma alteração climática ou ecológica acentuada, como chuvas pesadas, inundações ou secas. Mesmo nas áreas endêmicas, o carbúnculo ocorre irregularmente, freqüentemente com muitos anos passados entre as ocorrências. Durante uma epidemia, as moscas e os outros insetos mordedores podem transmitir mecanicamente a doença de um animal para outro, mas esse modo de transmissão tem pouca importância. A infecção também pode ser causada por meio de ingredientes alimentares artificiais ou naturais contaminados, tais como a torta ou os resíduos de matadouro. Colheitas tais como as de feno cultivado em solo contaminado causam ocasionalmente pequenos surtos. Suínos, cães, gatos, visons e animais silvestres em cativeiro adquirem a doença a partir do consumo de carne contaminada.
O homem pode desenvolver lesões cutâneas localizadas (carbúnculo maligno) a partir do contato de uma solução de continuidade cutânea com tecidos ou sangue infectados, pode adquirir uma mediastinite hemorrágica altamente fatal (doença do classificador de lã) a partir da inalação de esporos ao manipular lã ou pêlos contaminados, ou um carbúnculo intestinal a partir do consumo de carne não cozida.
ACHADOS CLÍNICOSTipicamente, o período de incubação é de 3 a 7 dias (varia de 1 a ³ 14 dias). O curso clínico varia de superagudo a crônico. A forma superaguda se caracteriza por um início súbito e por um curso rapidamente fatal. Podem ocorrer cambaleios, dispnéia, tremores, colapso, alguns movimentos convulsivos e morte nos bovinos, ovinos ou caprinos sem qualquer evidência anterior de enfermidade.
No carbúnculo agudo dos bovinos e ovinos, ocorre uma elevação abrupta na temperatura corporal e um período de excitação seguido por depressão, letargia, comprometimento cardíaco ou respiratório, cambaleios, convulsão e morte. A temperatura corporal pode atingir 41,5°C, cessa-se a ruminação, reduz-se consideravelmente a produção de leite e os animais prenhes podem abortar. Podem ocorrer descargas sanguinolentas a partir dos orifícios corporais naturais. As infecções crônicas se caracterizam por um inchaço edematoso, subcutâneo e localizado, que pode ser muito extenso. As áreas mais freqüentemente envolvidas são a face ventral do pescoço, o tórax e os ombros.
Alguns suínos de um grupo podem morrer de carbúnculo agudo sem terem apresentado nenhum sinal anterior. Outros podem exibir um inchaço rapidamente progressivo ao redor da garganta, o que pode causar morte por sufocamento. Muitos suínos do grupo podem desenvolver a doença em uma forma crônica suave e se recuperar gradualmente. No entanto, alguns deles, quando abatidos como animais normais, podem apresentar evidências de infecção por carbúnculo nos linfonodos cervicais e nas amígdalas.
LESÕES O rigor mortis está freqüentemente ausente ou incompleto. Pode-se verter sangue escuro a partir da boca, das narinas e do ânus com um timpanismo acentuado e uma rápida decomposição do corpo. Caso se abra inadvertidamente a carcaça, observam-se lesões septicêmicas. O sangue fica escuro e espesso, e falha em se coagular facilmente. São comuns hemorragias de volumes variáveis nas superfícies das serosas do abdome e do tórax, assim como do epicárdio e do endocárdio. Encontram-se presentes comumente efusões edematosas e tingidas de vermelho por baixo da serosa de vários órgãos, entre os grupos dos músculos esqueléticos e na subcútis. Ocorrem hemorragias freqüentemente ao longo da mucosa do trato gastrointestinal, e úlceras podem se fazer presentes, particularmente sobre as placas de Peyer. Torna-se comum um baço aumentado, vermelho-escuro ou negro, amolecido e semifluido. Fígado, rins e linfonodos ficam geralmente congestos e aumentados.
Nos suínos com carbúnculo crônico, as lesões ficam geralmente restritas às amígdalas, aos linfonodos cervicais e aos tecidos circundantes. Os tecidos linfáticos da área ficam aumentados e ficam mosqueados de salmão a uma cor de vermelho tijolo na superfície de corte. Podem estar presentes úlceras ou membranas diftéricas sobre a superfície das amígdalas. A área ao redor dos tecidos linfáticos envolvidos fica geralmente gelatinosa e edematosa.
DIAGNÓSTICO – Um diagnóstico baseado nos sinais clínicos pode ficar difícil, especialmente quando a doença ocorrer em uma nova área. Portanto, deve-se realizar um exame laboratorial confirmatório. A amostra preferida consiste em uma pequena quantidade de sangue coletado assepticamente a partir de um vaso superficial, tal como a veia jugular. Como os suínos com doença localizada são raramente bacterêmicos, deve-se enviar um pequeno pedaço do tecido linfático afetado que tiver sido coletado assepticamente. Antes do envio, deve-se contatar o laboratório para se determinar os procedimentos de expedição apropriados.
Deve-se diferenciar o carbúnculo das outras afecções que causam morte súbita. Nos bovinos e nos ovinos, podem-se confundir o carbúnculo com as infecções clostridianas, o timpanismo e a apoplexia por raios. Nos bovinos, também se devem considerar a leptospirose aguda, a hemoglobinúria bacilar, a anaplasmose e os  envenenamentos agudos por samambaia, trevo doce e chumbo. Nos eqüinos, a anemia infecciosa aguda, a púrpura, as cólicas variadas, o envenenamento por chumbo, a apoplexia por raio e a insolação podem lembrar o carbúnculo. Nos suínos, a cólera suína aguda, a febre suína africana e o edema maligno faríngeo constituem-se em considerações diagnósticas.
TRATAMENTO E CONTROLE – Como o carbúnculo freqüentemente é fatal, tornam-se essenciais um tratamento inicial e uma implementação vigorosa de um programa preventivo. Ao ocorrer um surto originário do solo, é melhor utilizar antibióticos para os animais doentes e imunizar todos os animais aparentemente bem no rebanho e nas propriedades circundantes. Se o surto estiver associado a uma fonte discreta, tal como a farinha de osso contaminada, o tratamento antibiótico dos animais expostos e a remoção da fonte podem ser mais efetivos que a vacinação na redução das perdas. Os animais domésticos respondem bem à penicilina se forem tratados nos estágios iniciais da doença. A oxitetraciclina administrada diariamente em doses divididas também é efetiva. Também se podem utilizar outros antibacterianos, por exemplo, a eritromicina ou as sulfonamidas, mas ainda não se avaliou em situações de campo a sua efetividade em comparação com a da penicilina e das tetraciclinas.
Pode-se controlar de modo amplo o carbúnculo dos animais domésticos por meio da vacinação anual de todos os animais pastejadores na área endêmica e por meio da implementação de medidas de controle durante os surtos. Utiliza-se a vacina da cepa de Sterne não encapsulada quase que universalmente para a imunização dos animais domésticos. Deve-se realizar a vacinação 2 a 4 semanas antes da estação em que se pode esperar os surtos. Não se devem vacinar os animais dentro de 2 meses antes do abate. Por ser uma vacina viva, não se devem administrar antibióticos dentro de 1 semana após a vacinação. Devem-se determinar os procedimentos exigidos pelas leis locais antes da vacinação do gado leiteiro durante um surto.
Os procedimentos de controle específicos, além da terapia e da imunização, são necessários para conter a doença e impedir o seu alastramento. Esses procedimentos incluem:
1. notificação dos oficiais reguladores apropriados;
2. Cumprimento rígido de uma quarentena;
3. eliminação imediata dos animais mortos, do estrume, da cama ou de outros materiais contaminados por meio de cremação ou de enterramento profundo; 
4. isolamento de animais doentes e a remoção dos animais saudáveis das áreas contaminadas;
5. desinfecção dos estábulos, cercados, salas de ordenha e equipamentos utilizados nos animais domésticos;
6. uso de repelentes de insetos;
7. controle de animais necrófagos que se alimentam dos animais mortos pela doença; e
8. observação dos procedimentos sanitários gerais por parte do pessoal que estiver em contato com os animais doentes, para a sua própria segurança e para impedir o alastramento da doença. (24)

À inspeção devem ser condenadas as carcaças portadoras de carbúnculo hemático, inclusive couro, chifres, cascos, pêlos, vísceras, conteúdo intestinal, sangue e gordura, impondo-se a imediata execução das seguintes medidas:
1 - não podem ser evisceradas as carcaças reconhecidas portadoras de carbúnculo hemático;
2 - quando o reconhecimento ocorrer depois da evisceração, impõe-se imediatamente limpeza e desinfecção de todos os locais que possam ter tido contato com resíduos do animal, tais como: áreas de sangria, pisos, paredes, plataformas, facas, machados serras, ganchos, equipamento em geral, bem como a indumentária dos operários e qualquer outro material que possa ter sido contaminado;
3 - uma vez constatada a presença de carbúnculo, a matança é automaticamente interrompida e imediatamente se inicia a desinfecção;
4 - recomenda-se para desinfecção o emprego de uma solução a 5% (cinco por cento) de hidróxido de sódio (contendo no mínimo, noventa e quatro por cento deste sal). A solução deverá ser recente e empregada imediatamente, tão quente quanto possível, tomadas medidas de precaução, tendo em vista sua natureza extremamente caústica; deve-se ainda fazer proteger os olhos e as mãos dos que se encarregarem dos trabalhos de desinfecção sendo prudente ter pronta uma solução ácida fraca de ácido acético, por exemplo, para ser utilizada em caso de queimaduras pela solução desinfetante;
5 - pode-se empregar, também, uma solução recente de hipoclorito de sódio, em diluição a 1% (um por cento);
6 - a aplicação de qualquer desinfetante exige a seguir abundante lavagem com água corrente e largo emprego de vapor;
7 - o pessoal que manipulou material carbunculoso, depois de acurada lavagem das mãos e braços, usará como desinfetante uma solução de bicloreto de mercúrio a 1:1000 (um por mil), por contato no mínimo durante um minuto;
8 - a Inspeção Federal terá sempre sob sua guarda quantidade suficiente de hidróxido de sódio e de bicloreto de mercúrio;
9 - como medida de precaução, todas as pessoas que tiverem contato com material infeccioso serão mandadas ao serviço médico do estabelecimento ou ao serviço de Saúde Pública mais próximo;
10 - todas as carcaças ou partes de carcaças, inclusive couros, cascos, chifres, vísceras e seu conteúdo, que entrarem em contato com animais ou material infeccioso, devem ser condenados;
11 - a água do tanque de escaldagem de suínos, por onde tenha passado animal carbunculoso, também receberá o desinfetante, e será imediatamente removida para o esgoto; o tanque será por fim convenientemente lavado e desinfetado.
Quando houver suspeita de carbúnculo hemático, além das medidas já estabelecidas, à Inspeção Federal cabe proceder como se segue:
1 - observar por 48 (quarenta e oito) horas; se no fim desse período não ocorrerem novos casos, permitir o sacrifício de todo o lote, no final da matança;
2 - ocorrendo novos casos determinar o isolamento de todo o lote e aplicar soro inti-carbunculoso, permanecendo os animais em observação pelo tempo que a Inspeção Federal julgar conveniente, sendo que no mínimo deve decorrer 21 (vinte e um) dias, depois da última morte ou da aplicação do soro para sacrifício de qualquer animal do lote;
3 - determinar a limpeza e desinfecção das dependências e locais onde estiverem em qualquer momento esses animais, compreendendo a remoção, a queima de toda a palha, esterco e demais detritos e imediata aplicação, em larga escala, de uma solução de soda a 5% (cinco por cento) ou de outro desinfetante especificamente aprovado pelo D.I.P.O.A. (2)

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